terça-feira, 22 de março de 2011

Transparências...



Semelhante à imóvel
transparência
à inesgotável face
à pedra larga onde o olhar repousa

Água sombra e a figura
azul quase um jardim por sob a sombra a iminência viva aérea
de uma palavra suspensa
na folhagem

Semelhante ao disperso ao ínfimo chama-se agora aqui o sono da erva a ligeireza livre
a nuvem sobre a página.


Antonio Ramos Rosa


*Pintura de Ana Luisa Kaminski

sexta-feira, 11 de março de 2011

Contempla o teu viver que corre...


Enquanto faço o verso, tu decerto vives.
Trabalhas tua riqueza, e eu trabalho o sangue.
Dirás que sangue é o não teres teu ouro
E o poeta te diz: compra o teu tempo
Contempla o teu viver que corre, escuta
O teu ouro de dentro. É outro o amarelo que te falo.
Enquanto faço o verso, tu que não me lês
Sorris, se do meu verso ardente alguém te fala.
O ser poeta te sabe a ornamento, desconversas:
“Meu precioso tempo não pode ser perdido com os poetas”
Irmão do meu momento: quando eu morrer
Uma coisa infinita também morre. É difícil dizê-lo:
MORRE O AMOR DE UM POETA.
E isso é tanto, que o teu ouro não compra,
E tão raro, que o mínimo pedaço, de tão vasto
Não cabe no meu canto.


(Hilda Hilst)


PINTURA DE ANA LUISA KAMINSKI
"OLHAR ORQUIDAL ROSADO" ou "CONFLUÊNCIAS RÓSEAS"

sexta-feira, 4 de março de 2011

Una farfalla che suona...



Sembri una farfalla che vola,
sembri un organo che suona.
il tuo fiore circonda le mie vene,
paradiso dei sofferenti,
angelo dalle ali di seta
non volare mai dal mio tetto,
circonda di te il mio sguardo,
dedica a me il tuo amore.
Sembri una luce azzurra,
sembri la primavera verde;
sei la gioventù dei miei anni,
sei l'ombra dei miei passi,
soggetto d'amore, soggetto di vita.



(GENNARO KELLER, "ALI DI LIBERTA' ovvero LA MUSICA NEL VENTO")




Que as águias nobres do teu verso esvoacem
alto, no Azul, por entre os sóis e as galas,
cantem sonoras e cantando passem
dos Anjos brancos através das alas...

E canta o amor, o sol, o mar e as rosas,
a da mulher a graça diamantino
e das altas colheitas luminosas
a lua, Juno branca e peregrina.

Vibra toda essa luz que a do ar transborda
toda essa luz nos versos vai vibrando
e na harpa do teu Sonho, corda a corda,
deixa que as Ilusões passem cantando.

Na alma do artista, alma que trina e arrulha
Que adora e anseia, que deseja e que ama
Gera-se muita vez uma fagulha
Que se transforma numa grande chama,

Faz estrofes assim! E após na chama
do amor, de fecundá-las e acendê-las
derrama em cima lágrimas, derrama,
como as eflorescências das Estrelas. . .

(Cruz e Sousa)
PINTURAS DE ANA LUISA KAMINSKI